24 junho 2004

Ai, ai...

"Oi gente, tudo bom? Espero que sim, pois do contrário, não vou poder fazer nada..."


Fala aí, esse texto aí em cima parece ser eu? Pois é. Mas é. Por incrível que pareça, depois do fora que eu levei da Milena, acho que eu deixei um pouco do que eu era...


Bom, vamos ao que realmente interessa, que hoje eu vou falar do meu pai:

Velho Desgraçado Viado Traíra!
Que atire a primeira pedra quem nunca pensou isso de alguém. Tá, é muita canalisse e cara de pau da minha parte odiar meu pai, mas esse grande cachorro MERECE ser xingado.
Sei também que meu Irmão vai me dar bronca por escrever isso dele, mas foda-se.
Sem contar que esse texto responde muitas perguntas que fazem a mim: "Por que você não bebe?", "Por que você não fuma" e "Por que você é tão certinho?".

Vamo intão?

Xinguei meu pai daquilo tudo por que, como podem atestar alguns leitores, ele é um alcóolatra. Antes que alguém venha dizendo que isso se deve por ele ser fraco de vontade, e que é falta de apoio familiar: ele pára de beber quando bem quer, e falta de apoio familiar foi o que ele mais teve.

Em todas as vezes que me lembro em que meu pai sofreu problemas de saúde por causa do álcool, me lembro de ter visto a minha mãe, que sustentou uma casa com quatro filhos sozinha (tinha uma pequena ajuda dos três mais velhos), se matando para conseguir ajuda para recuperá-lo. E sempre que ele se recuperava, tornava a beber.

Bem me lembro das vezes em que ele, bêbado, atacava a família. Até a minha irmã mais próxima ele chegou a atacar, e isso quando ela tava grávida. Se não sou eu, na época com 14 anos, ficar na frente de 90kgs de músculos, ela talvez tivesse perdido a filha.

Em outras vezes, ele mesmo me atacou. Mas a última, em que ele derrubou um guarda-roupas em cima de mim e eu perdi o controle das emoções, ele quase teve a garganta arrancada e as pernas quebradas. Que fique bem claro que eu não falo isso com nenhum orgulho, pois bater em pai é o pior dos pecados. Voltando, depois desse dia ele nunca mais ergueu um dedo contra mim.

No dia de natal do ano passado, ele estava mais bêbado que o de costume. Tão prá lá de Bagdá que conseguiu quebrar o fêmur direito. Para tirar ele do local que estava caído, foi um custo: ele berrava e a vizinhança achou que os filhos estavam espancando o pai. Conseguindo levar ele pra ambulância, o problema foi conseguir um raio-x do fêmur. Conseguindo, depois de duas horas, o problema foi realizar a cirurgia. Sabe-lá Deus a sorte que o covarde tem, pois ele teve a transferência para o Hospital Geral do Pirajuçara alguns dias depois. Feita a cirurgia, voltou para casa numa cadeira de rodas. Que fique claro que minha mãe perdeu as merecidas férias por causa dele -passando dias a fio no hospital fazendo compania para esse covarde.

Um mês depois do retorno, teve complicações e por pouco não perde a perna. Mas um mês da mesma história: hospital, internação, mãe fazendo compania, filhos visitando, apoio de amigos, etc. Voltou para casa, e dessa vez em definitivo.
Como ele ficava em casa reclamando que não havia nada para fazer, minha mãe deixou algumas tarefas caseiras. Coisas simples, tais como limpar o quintal, alimentar os cachorros... enfim, fazer o que ele deveria fazer quando passava dias no sofá bêbado. Ultimamente, eu tinha percebido que ele estava estranho: muito falante, muito contente, fazendo piadas com tudo. Resolvi ficar quieto, pois qualquer desconfiança mostrada poderia abalar os nervos dele e fazê-lo voltar ao vício, que, diga-se de passagem, nem era mais lembrado em casa.

No último feriado de Finados, ele estava cheirando a álcool. E eu senti esse cheiro. Avisei minha mãe, que, desconfiada, mandou eu xeretar a oficina dele nos fundos do quintal. Lá dentro, a coisa que eu já esperva: uma garrafa de pinga, escondida. Jogamos a pinga fora, para evitar que certos efeitos desagradáveis acontecessem.

Pois não sabe-se como, ele conseguiu encher a cara. E dessa vez, passou qualquer limite.

Tentou matar a minha irmã, no dia 22.

Numa hora em que não havia mais ninguém em casa. Obviamente, ele foi mal-sucedido (ainda bem), pois a minha irmã pode ser mais fraca que ele, mas não é besta. Ambos ali saíram machucados (mais ela do que o covarde: ele estava andando de bengala, e adivinha o que usou para bater nela? Pois é. Orelhas, pescoço, boca, pernas e barriga dela ficaram com marcas e ensanguentados. Ele saiu apenas com um arranhão, nos braços). Ela foi pro hospital tratar os ferimentos.

Eu havia chego em casa todo contente, pois tinha recebido um convite para sair. Entrei e vi ele, chorando no sofá da sala. Percebi o cheiro de pinga, vi o braço dele marcado, e, somando dois mais dois, entrei em disparada pro quarto. Meu irmão me acalmou nessa hora e me explicou tudo. Meu primeiro impulso foi ver como minha irmã estava, mas ela tava falando com o namorado. Meu pai me chamou pouco depois:
-Filho, pode ir buscar um cobertor pra mim? A sala está fria...
-Não
-Por que não? Eu to pedindo por favor!
-Vai a merda. Se você é homem o bastante para tentar matar a filha que não tem como se defender, vai ter que ser homem o bastante para se virar.

Julgo eu necessário dizer, mas desde então minha mãe deixou de cuidar dele. Eu já nem olho na cara, e ontem eu dei uma bronca nele quando ele tava sóbrio (para evitar argumentos do tipo: "Só é homem quando eu estou bêbado"). Minha irmã está bem, e a glicemia da minha mãe (diabética com problemas cardiácos) deve estar estourando.


Pai, é duro ouvir isso de um filho, mas eu te odeio. Se você fosse homem o bastante, estaria trabalhando e fazendo uma coisa útil, e não batendo nos outros.

Desde que ele quebrou a perna, eu fazia vista grossa à visitar o hospital. Eu sabia que cedo ou tarde ele beberia novamente. Sem contar que, quando ele está em casa, xinga os filhos de tudo quanto é palavrão, mas os filhos dos outros ele brinca.
Deve ser por isso que eu invejo quem tem um pai legal: a falta de um na minha vida. tenho certeza que se eu fosse um drogado, maconheiro, arruaceiro e não tivesse a cabeça no lugar ele amaria o filho. E se minha mãe fosse uma puta, ele adoraria a mulher.

Por isso eu não bebo coisas alcóolicas: para evitar ficar igual a quem eu odeio. Prefiro mil vezes seguir a minha mãe, que é esperta e sempre se preocupou com os filhos, do que seguir meu pai.Melhor estar bem na vida do que dependente dos outros, e como se não bastasse, ser mal-agradecido.

Sr. Luiz Alves Batista, faça um favor a todos da sua família: vire homem e gente enquanto você ainda tem uma família. Mas não espere apoio do seu filho mais novo. Pode estar certo, ele passou a te odiar a partir do dia em que você jogou (é, jogou mesmo) ele na parede. Pode ter o apoio até da sua mulher, essa senhora guerreira que é muito mais honrada que você, mas esqueça que um dia, você teve um filho chamado Guilherme que te achava um herói.

2 comentários:

  1. Oi,Eddie ...
    Poxa essa situação que você passa é difícil.
    É muito complicado lidar com uma pessoa que tem vícios...
    Álcool, drogas, etc...
    Sei como é isso.
    Entendo perfeitamente o seu lado.
    E como disse a Pammy, a gente só conhece a sua versão e sendo assim fica difícil de comentar.
    No entanto, acho que nada justifica as agressões do seu pai. Sua irmã deve ter passado mau bocados por isso.
    Espero que ela já esteja melhor.
    Eddie, te parabenizo pelo sua boa-vontade e consciência de seguir sua mãe, pois outras pessoas poderiam se revoltar e jogar tudo pro alto.
    Mas você é um exemplo de força e consciência.
    Parabéns...
    De sua amiga:
    DSAG

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  2. Oi Guilherme, sinto muito por tudo que esta acontecendo, assim eu tenho uma idéia do que você ta passando mais te dezejo tudo de bom e que essa história se resolva o quanto antes pra não gerar mais odio e tristeza Ok! Assim se precisar de alguem pra conversar desabafar, um ombro amigo pode contar comigo ta bom. Beijos Gabrielle

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