26 junho 2004

Com a licença, eu não queria interromper

"Desculpem estar interrompendo a sua viagem, mas esse é o meu trabalho. To aqui vendendo essas balinhas, a um pacote por um real. Tenho certeza que Deus vai ajudar você se me ajudar, e que ele não vai deixar faltar no seu lar. Pessoal, antes de comprarem, gostaria que soubessem que meu produto é de qualidade. Eu bem que podia estar roubando, mas não. Vender balas foi a forma honesta que eu encontrei de conseguir o pão de cada dia. O que vou falar agora não é para forçar vocês a comprarem, mas é que eu tenho uma filha de cinco anos, que graças a Deus possui a cabeça no lugar. Obrigado e tenham uma boa viajem. Olha a bala, olha a bala..."

Hehehe... escrevi esse discurso aí em cima por causa dos famigerados vendedores de dores de barriga: os ambulantes de ônibus!
Antes de eu ir criticando esses pobres pés rapados miseráveis coitados, vamos analisar a atitude deles. Com um português que beira o sobrenatural (esse aí em cima tá traduzido), eles nem se preocupam se você quer o produto ou não. Chegam e entregam pra você, fazendo uma pusta cara feia se você recusar.

E notem como eles conseguem, com tanta inflação, comercializar produtos sempre no mesmo preço: um é cinqüenta centavos, dois é um Real. É de se desconfiar a maneira de como eles conseguem esses produtos. Sem contar em o que eles fazem com o tanto de dinheiro (duas vezes mais em uma semana o que eu ganho, em um mês).

E temos também o texto nada ironico deles. Normalmente esses aí, que dizem ter filhos, querem mais é que você compre. Me lembro de um certo diálogo que tive com um vendedor desses:

-O jovem, compra aí! Pensa só na alegria do meu filho...
-Cara, eu to sem grana ( e estava mesmo)
-Mas leva aí, pra me ajudar!
-Mas eu não tenho nem um centavo!
-A, meu, deixa de ser mão-de-vaca!
(é impressionante a maneira de como eu consigo atrair comentários desse tipo na minha vida sem nem ao menos ter feito algo errado. Tá, cara, eu fui educado. Você pediu.)
-Escuta, não fui eu quem fez o seu filho, não comi sua mulher e o principal, eu não estou precisando. Foda-se você e me deixa em paz, que já falei que não tenho dinheiro, caralho!

O cara saiu reclamando que eu era ignorante. Fala sério. Voltando ao assunto, vemos tb a parte do "eu podia estar roubando". Que coisa mais sem nexo? Por que? Simples. Podia, mas não está. Chega a ser meio óbvio... quase todo mundo pensa: "está vendendo". Posso garantir que não passa nenhum pensamento, do tipo que discrimina, por qualquer pessoa quando vê um vendedor dentro do ônibus.


Mais patadas
Sabe que isso de dar patadas faz bem ao ego? Puxa, se eu descobrisse isso mais cedo, seria muito mais estúpido e ignorante do que já sou!
Quando alguém te mostra algo que não lhe diz respeito ou traz algo útil: "O que é que eu tenho a ver com isso", "e o Kiko?" e "o que isso traz de útil pra mim?" são as melhores alternativas

Um comentário:

  1. Nada contra os vendedores nos ônibus, apenas o fato de quando você está quase dormindo, vem aquele estranho e joga um pacote de qualquer coisa no seu colo e te acorda berrando em alto e bom som que o produto custa apenas 1 real...

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