11 junho 2004

Dia de nostalgia

Bota típico nisso. Acordei umas nove horas. Nove horas, cacete. Pra quem acorda de segunda a sábado muito antes das seis, até que tá de bom tamanho. Mesmo por que, eu não consigo passar das dez na cama.
Bom, enquanto eu tento mudar o template e resolver a questão da maldita pergunta aparecer duas vezes e na primeira, estranha, vamos entreter vocês, que é pra isso que eu to aqui.

Agora a pouco houve um tiroteio aqui perto. Culpa da festa popular de São João. Curioso do jeito que sou, saí pra dar uma olhada (mesmo por que, detesto ficar na frente de um computador. E também to sem sono nenhum...). A rua tá calma. A de cima, onde é a festa, também. Menos mal, não preciso ficar em alerta pra quebrar o braço de algum infortunado que tente invadir minha casa.

Falando nela, hoje foi dia de faxina. Culpa da minha mãe. E por incrível que pareça, consegui arrumar meu quarto. E nem faz tanto tempo assim desde a última vez que arrumei essa zona. Só foi no ano passado, no carnaval, eu acho.

Seguindo, decidido a ficar em casa, pensei em conversar com o Karson. Mas aí achei melhor não. Desde que a mãe dele morreu, ele ficou mais melancólico (além do que já era), e talvez estivesse prestando alguma homenagem à ela (que descanse em paz, diga-se de passagem).

Terminado a faxina, deitei na cama, quando resolvi olhar meu fichário. Dar uma organizada nele. Remexendo, encontrei muita coisa, desde anotações das aulas até a notas mentais. Recadinho de outras meninas não.Ainda bem. Não gosto dessas frescuras.

Tá, vai, me chamem de chato. Mas acho besteira isso de recadinho, mensagens de ajuda e outras coisas. Já tive MUITOS problemas, só entrei em deprê umas duas vezes, e nem por isso queria esses bilhetes.

Daí, fuçando um pouco mais, notei um papelzinho dobrado, bem escondido. Até fiquei espantado: era o primeiro bilhete que eu tinha escrito para uma garota. Não cheguei a entregar; ela é do tipo durona (MIlena, e dái?), e se o pretendente demonstra alguma fraqueza, já era. Perdoa até certo ponto, mas um bundão... já era.

Uma vez que gosto de parecer uma rocha do mais puro silício, escondi aquele bilhete.

Daí me lembrei do meu passado. Quando tava na sexta série, que eu tinha conhecido ela. Até que foi bem engraçado, estilo policial perserguindo o ladrão.

Foi assim (eu tenho uma memória impressionante pra lembrar de certas pessoas):

Entrei na escola. Aluno novo, de novo. Justo na última sala. Resolvi entrar com uma cara simpática: punhos cerrados, cara fechada, olhar feio.
Percebi que tinha chamado atenção da sala inteira. Acho que era o pisar duro, balançando o chão. Sentei logo na última carteira, colocando o boné pra frente, tampando um pouco os olhos.

E justo nessa hora, me aparece o cara mais bobo do colégio inteiro. E o fdp me conhecia (apelido dela era Sardas. Tentem adivinhar o por que):
-EDDIE, garoto, você!!!
-Hum?
-Lembra de mim, homem? Sou o Sarda!
-Virou viado depois de velho é?
[risos da sala]
-Oi pra você também. Não muda mesmo...
-Se for pra ficar que nem você, melhor continuar assim
-Falou o foda!

Era aula de Ed. Física. Após o blábláblá da professora, ela propôs a eu e esse Sarda o seguinte: um pega-pega. Álias, na sala inteira. Decido a conseguir o respeito de todo mundo, disse:
-Eu serei o pegador.
-Mas você é novo!
-E daí. Se alguém tentar algo, o máximo que vai conseguir é uma ida ao hospital.
Hum... naquela época eu ERA mal... continuando, todos saíram correndo. Notei um grupinho de muleques fazendo armadilhas com mato. Coisa de criança isso. Mas tudo bem, vamos fazer seus jogos em nome da diversão.

Logo percebi quem era o mais lento, e fui atrás dele. Na época, depois desse dia, começaram a me chamar, às vezes, de Papa-léguas. Isso por que ninguém me pegava. Se não era a velocidade, era a esperteza.

Enfins, logo esse mais lento pegou mais um. E esse, gordo pra cacete, parou e gritou:
-Aquele que me derrubar vai ser o chefe da sala!

Opâ, minha chance! Parece que era (e foi) sério, pois todo mundo tentou. Resolvi me mostrar um pouco, tomei distância e corri em direção a ele; todo mundo achou que eu ia pular em cima dele. Ao invés, fui mais suicida: agarrei as pernas dele, e com a inércia do movimento, puxei ele pra frente (com o cuidado de sair da reta da queda).
Quando ele caiu, todo mundo ficou espantado. Afinal, como aquele cara novo tinha feito isso? Fiquei na minha.

Na hora do intervalo, ela apareceu. Disse que eu tinha sido bom e queria me desafiar.
Olhei bem. Tenho um código de honra próprio, que me impede de agradir mulheres.Mas dái pensei: "Eu não preciso bater, ela pode se cansar".

Logo começou a guerra de poder que se aarastaria por três anos:
Ela cravou as unhas no meu braço. Aquele de desse sinal de fraqueza, já era. Fiquei olhando: não sentia dor nenhuma, apesar de ver a pele ficar branca.
-Grite de dor, novato!
-Hum? Não sinto dor.

Ela ficou assim uns três minutos. Vendo que não ia conseguir nada, desistiu e disse:
-ainda não acabei com você.
-Tá,falou.

Vi ela se afastando e veio o então namorado dela:
-Meus parabéns. Nem eu agüento aquelas unhadas.
-E quem diabos é você?
-Laudelino. Prazer. Qual seu nome? O pessoal anda te chamando "Papa-léguas", mas você tem um nome. Ou um apelido.
-Eddie.
-por que?
-Isso já não é da sua conta.

E saí de perto. Desde então, todos os intervalos, alguém me desafiava. Quase sempre ela. Mas na saída, iamos comversando até a casa dela.
Começou uma boataria de que eu estava namorando ela. Até aí, tinha me dado bem com todo mundo. Mas nesse dia a coisa foi foda:
-Aê, Ed.
-Quié?
-Cê tá namorando minha mina?
-Não.
-tem certeza?
-Imagine. Eu ficoi bêbado e vou lá dar uns beijos nela. Larga a mão! Tem mina melhor no colégio!
-Tá dizendo que cê é bom demais pra ela? e que ela é a pior mina do colégio? Mermão, tu podia ser meu truta, certo? Mas agora, fio, já era.
-Falô, mano. Dá pra traduzir?

Diante da espectativa de eu ser mais esperto, esse Laudelino pensou:
"O cara é um cdf! Firmeza, vou entupir de porrada"
E partiu pra cima. Foi pra baixo com o pulso esquerdo quebrado.
-Cê ainda quer me bater?
-@#¨&*)
-Não põe minha mãe no meio que eu ponho no meio da sua!

E partiu de novo pro ataque. Voltou pra trás com sangue na boca. Nada como um soco no estômago. Não aprendendo, seguiu com uma voadora. E foi pro chão com a perna quebrada, duas contusões no tórax e a garganta expremida, mal respirando.

-arf!
-Cê ainda quer apanhar? Aqui fora a escola não tem como te ajudar.
-Cê ainda vai ver, maluco.

No dia seguinte, a Milena veio conversar comigo. Nem tinha falado no assunto do namorado.
Fiquei sabendo depois que eles tinham brigado. E que ela ficou sem namorado, desde então, até hoje. Contaram que ela não quis mais ninguém, e nem ficou com alguém. Mas nisso eu duvido.

Bom, lembrei de muita coisa dela, hoje. E decidi: nem que seja a última coisa que eu faça na vida, mas eu ainda provo que somos apaixonados um pelo outro.

Ou seja, parece que eu adoro apanhar e levar fora.

2 comentários:

  1. Dark Sad Angel Girl:
    é verdade sobre a mãe do Karson ?
    Se for, é uma pena né ?
    Poxa, você tem uma memória incrível....
    E um grande amor por aquela garota....

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